Folha
do Marajó
Boa Vista, outubro de 1999.
Vereadores
denunciados por diárias irregulares
Os vereadores de São Sebastião da Boa
Vista arrumaram um jeito de aumentar seus próprios vencimentos, mesmo depois do
Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) ter dado parecer contrário à Câmara
Municipal. Encorajados pelo assessor jurídico, Walter Gomes Carneiro, que
informou que diárias não tinham nada a ver com subsídio e poderiam ser
atualizadas, o Legislativo decidiu aumentar os valores das diárias dos
vereadores e servidores para, de forma indireta, promover o reajuste salarial.
A farra com o dinheiro público foi tanta, que foram pagas diárias em pleno
Carnaval e em época de recesso legislativo.
O Ministério Público do Estado, através
do Promotor de Justiça Franklin Lobato Prado, entrou na Justiça com uma ação
civil pública por improbidade administrativa contra os vereadores Juracy
Rodrigues de Oliveira, presidente da Câmara, Milton Nascimento Tavares e
Benedito Nahum da Silva; os ex-vereadores Antônio Damaso Nogueira, Raimundo
Barbosa Tavares e Ocimar Nahum Drago, e o suplente de vereador Orlandino
Tavares Costa. Na ação, o Promotor pede que, além da devolução do dinheiro recebido,
os acusados percam a função pública, além da suspensão dos direitos políticos,
pagamento de multa civil e proibição de contratar com o poder público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais.
Conforme
a ação, tendo conhecimento que a remuneração dos vereadores tem seu reajuste
vinculado ao reajuste geral dos servidores municipais, conforme a Lei Orgânica
Municipal, a mesa da Câmara encaminhou ofício ao TCM indagando sobre a
possibilidade do Legislativo Municipal reajustar a remuneração dos vereadores alegando
impossibilidade de exercer seus mandatos com decência e satisfação, já que “não
poderiam prestar assistência financeira as pessoas carentes, pois não recebiam
uma remuneração compatível ao exercício de suas funções”.
Diante da resposta
negativa do TCM, que afirmou ser impossível qualquer reajuste na remuneração e
alertou que as funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara não se somam as
funções de natureza filantrópicas e assistências, os vereadores decidiram
aumentar os valores das diárias. Assim, em janeiro de l995, a diária que era de
R$ 9,63, em fevereiro de 1995 foi reajustada para R$ 60,00. Em maio de l995, a
diária novamente foi reajustada para R$ l00,00.
Esses reajustes das diárias representaram
aumento de 1.038,42%, enquanto o índice de inflação acumulado no período foi de
7,02%. Por isso, o vereador Getúlio Brabo de Souza formulou denúncia ao TCM, com
provas documentais, apontando o aumento e a concessão irregular das diárias no
exercício financeiro de 1995. A diretoria de controle externo confrontou os
documentos existentes na denúncia com os constantes da prestação de contas e
confirmou as informações de Getúlio.
De acordo com o Promotor
Franklin Lobato Prado, foram constatadas as seguintes irregularidades:
concessão de diárias sem a especificação exata do interesse do órgão para
deslocamento; despesa com concessão de diárias ultrapassando o valor pago a
título de remuneração; diárias concedidas em período de Carnaval e de recesso
parlamentar e concedidas em períodos em que os vereadores encontravam-se na
sede do município.
Segundo a ação, Juracy Oliveira, presidente
do Legislativo, confessou que sempre atendia os vereadores que se deslocavam
para Belém a serviço da Câmara, mesmo que estes não as justificassem por
escrito. Benedito Nahum disse que o presidente concedia as diárias, mas nunca
perguntava o que os vereadores iam fazer.
Exceto Milton Tavares, os outros acusados confirmaram que não
justificavam por escrito a concessão das diárias e nem as solicitavam
formalmente ao presidente do Legislativo.
Com exceção de algumas diárias concedidas
ao funcionário Luís Fernando dos Santos Oliveira, em que era mencionado “para
tratar de assuntos de interesse da Câmara Municipal junto ao Banco do Brasil,
ou junto à Associação dos Municípios da Ilha do Marajó”, todas as demais
portarias não mencionavam qual o trabalho a ser prestado pelo vereador ou
funcionário a serviço da Câmara.
Juracy Rodrigues de Oliveira recebeu no ano de
1995, 120 diárias, no valor de R$ 9.896,30; Benedito Nahum da Silva recebeu 118
diárias, no valor de R$ 9.776,30; Antônio Dâmaso Nogueira Filho recebeu 95
diárias, no valor de R$ 7.596,30; Raimundo Barbosa Tavares recebeu 95 diárias, no valor de R$ 7.476,30; Ocimar
Nahum Drago recebeu 69 diárias no valor de R$ 6.300,00; Orlandino Tavares Costa
recebeu 72 diárias, no valor de R$ 5.376,30; Milton Nascimento Tavares percebeu
71 diárias, no valor de R$ 5.276,30.
Segundo Getúlio Brabo de Souza, a demanda
de projetos, requerimentos e reuniões foi muito pequena em 1995, em relação a
concessão de diárias para que os vereadores prestassem serviço para o
Legislativo na capital do Estado. Os vereadores “trabalhavam” mais na capital
do que na sede do município. A Câmara de Vereadores funcionava só às quartas e
sextas-feiras. Já as diárias pagas para funcionários foram 150, no valor de R$
9.300,00. Foram gastos R$ 63.377,80 com diárias a vereadores e funcionários,
sendo a maior parte, R$ 54.077,80, dos parlamentares.
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